Tragédia
Duas pessoas morrem após parte de ciclovia desabar no Rio
Um dos mortos foi identificado por parentes no Instituto Médico Legal Afrânio Peixoto (IML) como sendo Eduardo Marinho Albuquerque, de 54 anos
Atualizada às 8h11min
A Polícia Civil identificou a segunda vítima do desabamento de um trecho de 26 metros da Ciclovia Tim Maia, em São Conrado, na zona sul do Rio. Trata-se de Ronaldo Severino da Silva, 60 anos. O corpo da primeira vítima identificada, o do engenheiro Eduardo Marinho de Albuquerque, 54 anos, será velado nesta sexta-feira (22) à tarde no Crematório Memorial do Carmo, no bairro do Caju, zona portuária do Rio, onde será cremado. Os dois corpos ainda permanecem no Instituto Médico Legal (IML) e devem ser liberados pela manhã.
O engenheiro Eduardo Albuquerque era corredor e fazia sempre o trajeto da ciclovia. Na quinta (21), antes de sair de casa, ele deixou um bilhete para o filho de 15 anos: “Vou correr. Volta já. Te amo”.
As buscas a uma terceira vítima, que seria uma mulher, de acordo com testemunhas, foram retomadas no início desta manhã. Estão sendo utilizados na operação 130 homens do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil e os trabalhos ocorrem com o auxílio de helicópteros, com moto aquática e mergulhadores, além de homens que fazem a varredura da praia com o uso de binóculos. Os mergulhares estão sendo usados na ação porque há possibilidade de o corpo estar preso entre as fendas dos rochedos. A Marinha está dando apoio com um navio-patrulha para evitar que embarcações particulares se aproximem do local com o objetivo de acompanhar o trabalho de resgate.
A Fundação Instituto de Geotécnica (GEO-Rio), órgão de prevenção de encostas da prefeitura do Rio, em uma primeira inspeção técnica, informou que outros trechos da ciclovia não foram afetados. A Geo-Rio disse ainda que nova análise será feita na estrutura assim que o nível da água do mar [ressaca] permitir. O trecho que desabou tem 26 metros e, segundo especialistas, a força do mar teria feito a estrutura cair, provocada por um empuxo da onda, que pegou a estrutura de baixo para cima.
O subsecretário municipal de Defesa Civil, Márcio Motta, disse que a Avenida Niemeyer, que liga São Conrado ao Leblon, permanecerá fechada para que os técnicos da prefeitura e homens do Corpo de Bombeiros possam trabalhar com mais tranquilidade. A prefeitura vai colocar tapumes no local onde a estrutura da ciclovia desabou, a fim de evitar que curiosos cheguem perto do trecho para tirar fotos.
Responsabilidades
O secretário municipal de Governo do Rio de Janeiro, Pedro Paulo, disse que a prioridade agora é com o resgate das vítimas e a interdição da avenida para evitar riscos de novos desabamentos. “Porque na medida em que você tem esse desabamento aqui, põe em dúvida a segurança de outros pontos que têm a mesma configuração de engenharia”. A Avenida Niemeyer ficará interditada para a circulação de pessoas. O secretário informou que engenheiros, geotécnicos e técnicos irão avaliar as causas “desse acidente imperdoável que aconteceu na ciclovia”.
A prefeitura pretende cobrar responsabilidades da empresa construtora da obra, a Concremat. O prefeito Eduardo Paes, que se encontrava na Grécia para a solenidade de acendimento da tocha olímpica, já está retornando ao Brasil, disse Pedro Paulo.
O secretário municipal de Obras, Alexandre Pinto, acrescentou que é prematuro apontar culpados. Disse que embora toda ressaca seja prevista, somente após a perícia que será feita no local e de posse dos resultados das investigações, haverá elementos para indicar as causas reais do desastre. A fiscalização da obra foi feita pela Geo-Rio, empresa ligada à Secretaria de Obras. “Na verdade, a gente tem que sentir a força da energia dessa onda para poder informar as consequências”. Para o secretário, “não há como dizer claramente agora quais as causas que contribuíram para ter esse acidente”. Apesar disso, ele estimou que os responsáveis são a empresa construtora Concremat e Concrejato e seus calculistas.
Alexandre Pinto declarou que a avenida só poderá ser liberada para os moradores depois que as investigações sobre as causas da tragédia forem concluídas, de forma a garantir segurança para uma a abertura da via.
Nota oficial
Em nota, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, lamentou profundamente o acidente e se solidarizou com as famílias das vítimas “e com todos os cariocas neste momento”. O prefeito atenderá a imprensa nesta sexta (22), assim que chegar ao Brasil, ainda sem previsão de horário.
“É imperdoável o que aconteceu, já determinei a apuração imediata dos fatos e estou voltando para o Brasil para acompanhar de perto”, manifestou o prefeito, que saiu nesta quarta (20) à noite do Rio.
Ainda de acordo com a mensagem divulgada pela prefeitura, os reparos serão executados pela empresa responsável pela construção, sem ônus adicionais ao município, já que a ciclovia ainda está na garantia de obra. A Avenida Niemeyer permanece interditada ao tráfego e o Corpo de Bombeiros continua as buscas no local.
Repercussão
Adriana Rocha é administradora de empresas e mora em São Conrado. Para ela, o acidente causou grande impacto. “A sensação é de que nós não estamos sendo cuidados pelo Poder Público”. Segundo ela, que quando passou pelo local bem cedo já tinha avistado um buraco que foi aumentando. “Me parece erro de projeto. Os engenheiros têm que prever uma maré alta. É lamentável, custou algumas vidas e podia ser um de nós”, disse.
A estudante de medicina Micaela Keller mora na Avenida Niemeyer, ela disse que andou uma vez pela ciclovia. “É bomba. É totalmente despreparada para ter pedestre. As vigas são separadas, tremem. Eu moro aqui há 20 anos e sempre tem onda [alta]. Não tem estrutura nenhuma para receber nada”, afirmou.
O industrial Alberto Bergier, frequentador da ciclovia, não acreditava no que via. “Passo aqui todo sábado e domingo. Aparentemente, a onda deve ter subido e levantou tudo. Isso não pode acontecer. Está com cara de Brasil. Está tudo ruindo mesmo. O país inteiro está caindo”.
Ronaldo Lapa é jornalista e duas vezes por semana passeia pela Ciclovia Tim Maia. Ele demonstrou surpresa diante do acidente. “Não imaginava que isso pudesse acontecer. Para quem fazia ciclismo aqui, era um negócio maravilhoso. Era uma das ciclovias melhores do mundo. Muita gente vinha aqui pela manhã. Virou 'point' “.
Lapa garantiu que até esta quinta-feira, quando ocorreu o desabamento, a ciclovia era considerada por muitas pessoas “o local mais maravilhoso do mundo para passear”. Sua surpresa foi total, assegurou. “Ninguém podia imaginar que uma ressaca podia derrubar uma estrutura construída ao lado do mar que, teoricamente, teria um cálculo bem feito para isso. Foi o mar que derrubou esse negócio mal feito. Uma tristeza”, resumiu.
Fonte: Agência Brasil
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